Getting your Trinity Audio player ready...
|
A paciente indígena passou por procedimento de urgência
Aos dois anos, Alice Irê Apinajé saiu da sua aldeia em Tocantinópolis para passar por uma cirurgia cardíaca de implante de marca-passo em Goiânia. O fato aconteceu em 2015.
Desde então, a menina levava uma vida normal. Mas nos últimos três meses, ela começou a mudar. Sintomas como tontura e desmaios surgiram. A família desconhecia que a bateria do marca-passo usado pela criança estivesse chegando ao fim. Então a família conseguiu uma transferência para o HMA – Hospital Municipal de Araguaína.
Ao ser internada, foi constatada a necessidade de uma cirurgia de urgência para trocar o marca-passo. E de imediato, na manhã da sexta-feira, 2 de abril, a pequena ganhou um novo aparelho.
Alice entrou para a história da unidade pública como sendo a primeira cirurgia de implante de marca-passo no HMA.
Cuidado humanizado
A troca do marca-passo de Alice tranquilizou o coração da mãe, Aline Souza Salvador Apinajé. Ela agradeceu a equipe e lembrou das dificuldades que teve.
“Vim da aldeia Palmeiras. A gente não fazia acompanhamento já tinha bastante tempo e, quando começou a pandemia, foi ainda mais difícil marcar uma consulta. Toda vez que o médico ia na aldeia eu pedia, mas nunca deu certo. Aí eu consegui esse encaminhamento para Araguaína. Então, eu só tenho que agradecer aos médicos do hospital por terem cuidado tão bem da minha filha”, disse.
O primeiro marca-passo de Alice havia sido implantado em 2015, na capital goiana. Na época, a menina tinha dois anos. O aparelho foi do tipo epicárdico, ou seja, implantado fora do coração, o mais comum em crianças, porque o calibre das veias infantis é muito fino.
“Nesse caso, foi colocado o marca-passo por via endocárdica transvenosa em cima. A criança evoluiu muito bem e já teve alta da UTI”, destacou a médica cardiologista responsável pelo procedimento, Alinne Macambira, especialista em marca-passo e arritmia cardíaca.
Quase 100 procedimentos cardíacos realizados
A resposta rápida do HMA ao caso de Alice foi possível porque, há mais de um ano, a unidade passou a oferecer o Serviço de Cirurgia Cardíaca Pediátrica.
A unidade é custeada pela Prefeitura de Araguaína e gerenciada pelo ISAC – Instituto Saúde e Cidadania. As cirurgias cardíacas possuem aporte financeiro do Governo do Tocantins.
Márcio Miranda, cardiologista pediátrico e coordenador do serviço de Cirurgia Cardíaca do HMA, comemora a evolução em pouco mais de 12 meses.
“Já foram realizados quase 100 procedimentos cardíacos, incluindo cirurgias cardíacas e procedimentos hemodinâmicos. Isso é um grande avanço para o nosso estado e toda a região Norte do Brasil, diante da escassez de serviços que temos na nossa região”, enfatizou o médico.
O médico explicou que, depois do primeiro implante na paciente, quando ela tinha dois anos, não foi dado seguimento às consultas regulares e o aparelho acabou chegando ao fim da sua vida útil. Isso colocou em risco a vida da paciente.
Menos de 40 batimentos por minuto
“A frequência cardíaca dela estava muito baixa, em torno de 35 a 40 batimentos por minuto. Então nós tratamos internamente e conseguimos resolver de maneira rápida com um implante de marca-passo. O procedimento ocorreu sem intercorrências e foi um sucesso”, pontuou Márcio.
Neste dia 6, quatro dias após a cirurgia, a paciente está estável, mantendo a frequência cardíaca de 90 batimentos por minuto no marca-passo, uma boa captura de todos os dados do eletrocardiograma e está estável hemodinamicamente, ou seja, é capaz de manter o pulso e a pressão sanguínea, independente de ajuda mecânica ou de remédios.
Agora a pequena Alice precisará visitar o médico regularmente, como explica a cardiologista.
“São necessárias avaliações periódicas do marca-passo. Assim que a gente implanta, sugere fazer a avaliação com sete dias e retorno com 15 ou 30 dias. No primeiro ano, o retorno deve acontecer a cada três meses, seis meses de diferença no segundo ano e, após esse período, o retorno deve acontecer de acordo com a avaliação médica”, finaliza a médica.
O que é e para que serve o marca-passo?
O marca-passo cardíaco é um pequeno aparelho que serve para regular as batidas do coração quando ele se encontra comprometido. É implantado por meio de cirurgia junto ao coração ou abaixo da mama do paciente.
O aparelho monitora o coração de forma contínua e identifica batimentos irregulares, lentos ou interrompidos. Ele então envia um estímulo elétrico ao coração, normalizando os batimentos.
Sua implementação é indicada pelo cardiologista em casos de enfermidades que causem a diminuição dos batimentos cardíacos, como doença do nó sinusal, hipersensibilidade do seio carotídeo, bloqueio atrioventricular ou outras doenças que afetam a regularidade das batidas do coração.