Getting your Trinity Audio player ready...
|
Fotos: Marcos Filho / Ascom Prefeitura de Araguaína
O procedimento, que durou cerca de quatro horas, contou com profissionais de Araguaína, Brasília e Palmas, e captou o fígado e as córneas de uma criança
“A minha filha sempre foi uma criança que gostava de ajudar outras pessoas. Ela estava deixando o cabelo crescer para doar pra crianças que estavam em tratamento contra o câncer. Por isso optamos por doar os órgãos dela, sabendo dessa vontade de ajudar o próximo que ela tinha”, conta Lázaro Mendes, pai de uma menina de sete anos, paciente que sofreu uma hemorragia cerebral ocasionada por um câncer e que teve os órgãos captados para doação e transplante no último dia 18.
A morte cerebral da criança foi constatada na última quarta-feira, 17, no Hospital Municipal de Araguaína, unidade gerida pelo Instituto Saúde e Cidadania – ISAC. A confirmação foi feita por dois médicos e comprovada por exames complementares.
“Foi um processo bem sério, que teve acompanhamento em todas as fases. No procedimento, que durou cerca de quatro horas, foram captados o fígado e as córneas. Essa foi a primeira captação de órgãos em crianças em Araguaína e envolveu um trabalho multidisciplinar”, enfatizou Márcio Miranda, diretor técnico do Hospital Municipal de Araguaína – HMA.
Um avião da Força Aérea Brasileira pousou no aeroporto de Araguaína no início da noite de quinta e trouxe três profissionais, que participaram da captação: a médica cirurgiã Ana Virginia Figueira, enfermeira Jéssica Lima e a técnica de enfermagem Debora Almeida.
Acolhimento familiar
Após o diagnóstico da morte, a família da criança foi orientada e comunicada sobre a possibilidade da doação de órgãos. Um trabalho que envolveu um acompanhamento minucioso do hospital.
“Nós, da assistência social, tivemos o papel de acolher, orientar e realizar uma entrevista social com todos os familiares da paciente. É um momento em que eles precisam de acolhimento, mesmo tendo consciência que esse gesto pode salvar a vida de outras crianças”, disse Marleide Teodoro, assistente social do HMA.
Confiança
“Para a família, a morte encefálica é um fenômeno complexo de ser compreendido, pois envolve questões familiares, culturais, sociais, religiosas e a falta de conhecimento a respeito do processo. Após o comunicado do óbito, é muito importante que haja o acolhimento da dor, dar tempo para a família expressar seus sentimentos, começar a processar aquela informação e tirar todas as dúvidas. Somente após esse momento é que é comunicado e oferecido a possibilidade de doação de órgãos. O acolhimento, o estar disponível para esclarecer dúvidas relacionadas ao processo, disponibilizar apoio psicológico e social são de suma importância para a decisão da família”, ressaltou Nayanna Brunio, psicóloga do HMA.
Agradecimento
Participaram do procedimento médicos de Araguaína, Brasília e Palmas. Foram três cirurgiões, um oftalmologista, um perfusionista, uma técnica de enfermagem e auxiliares. Dr. Márcio Miranda agradeceu o gesto nobre da família em ajudar a salvar vidas e o empenho de todos os profissionais.
“A psicologia e a assistência social foram fundamentais neste processo. Nós agradecemos também o empenho de toda a equipe da UTI Pediátrica, centro cirúrgico, anestesia e a Central de Transplantes do Tocantins. É muito gratificante participar do início de um processo de recomeço para essas pessoas, que esperam durante anos por uma doação. Doar órgãos é doar vida”, agradeceu.
“Nós não queremos que outras famílias sofram o que nós estamos sofrendo. Queremos que elas tenham alegria, amor e vivam muitos anos com a mesma alegria da nossa filha”, finalizou, emocionado, o pai da criança.
A direção do ISAC agradece todos os profissionais que colaboraram direta e indiretamente para que a captação fosse possível.
Os órgãos captados serão destinados a pacientes na espera por transplante segundo critérios da Central Nacional de Regulação.